segunda-feira, 3 de maio de 2010

Maternidade e Autonomia Psicomotora

A psicomotricista Marina Fabrício e Angelo Gabriel

Desde cedo, a conquista e os limites da autonomia são preocupações das mães durante o processo de criação e preparação dos seus filhos para a vida. O tempo extenso de exposição à televisão e ao computador exige que a ampliação do contato entre mães e filhos seja repensado já que as experiências do brincar, do fantasiar e do jogar são formas utilizadas pela criança para expressar as suas vivências e criar laços emocionais junto aos seus pais. No mundo pós-moderno, as crianças se tornaram um ‘mercado a ser conquistado a todo custo’. Brinquedos são associados a sanduíches; roupas e utensílios da moda adulta são artificialmente ada-ptados para as crianças. Brinquedos dotados de alta tecnologia, que roubam um tempo excessivo das crianças, podem vir a oferecer muito pouco para elas quando ficam sujeitas a única tarefa de apertar botões.
Enquanto tudo isso evolui, no caminho da contramão, convivemos com um número cada vez maior de crianças com déficit de atenção e de suas capacidades psicomotoras, assim como observamos o processo ansioso que tal situação pode gerar nos pais.
Ampliando o conceito psico/motricidade pode ser traduzida pela estreita relação entre corpo e inteligência, movimento e pensamento, promovendo bem-estar físico e mental ao indivíduo. A atividade motora e intelectual (cognitiva) está em constante inter-relação podendo uma influenciar, beneficamente, o desenvolvimento da outra, dentro do tempo próprio de desenvolvimento e maturidade psicomotora de cada criança. Assim, na metodologia do Jardim Escola Tempo de Infância, segundo sua pedagoga Regina Célia Oliveira Colucci, “Buscamos resgatar os jogos tradicionais para o desenvolvimento infantil e, por consequência, para o processo de alfabetização, além de adotar a metodologia própria Tempo de Infância, uma ode à alegria de se aprender brincando, através do movimento e das canções. Por outro lado, sinto que os pais devem acompanhar o processo dos seus filhos, a partir dos 4 anos, não só na hora da leitura das historinhas, mas estimulando-os a participar das pequenas tarefas do dia-a-dia, visando a conquista de sua autonomia psicomotora. Por exemplo, ajudar a família a arrumar a mesa de refeição, brincar de fazer biscoitos, separar grãos de feijão, arrumar gavetas, além de idas a parques e à praia podendo experimentar construir letras e castelos de areia.
A psicomotricista Marina Fabrício, terapeuta do Espaço Cultural Tocando em Você, conveniado ao JETI, escreveu em um de seus artigos, “Autonomia é a capacidade de fazer as coisas independentemente, por si só; distância que um veículo percorre com o combustível na capacidade máxima”. Neste caso, se adaptarmos o termo na psicomotricidade, qual seria a autonomia psicomotora? Como alcançar a autonomia psicomotora? Pensando na questão da independência, logo se pensa em um corpo habilidoso dentro dos padrões pré-estabelecidos pela sociedade, que incorpora a capacidade de ser veloz, ágil, preciso, dentre outros adjetivos que acabam por nos distanciar do fato de que cada indivíduo possui uma potencialidade diferenciada. Ao analisarmos a definição que se refere a ‘um veículo no qual a distância a ser percorrida depende da sua capacidade máxima de combustível’, aí sim podemos associar ao corpo psicomotor e a autonomia psicomotora. Sendo assim, o veículo passa a ser o corpo, instrumento dos movimentos; o combustível seria a quantidade de saberes (o conhecimento) unida às emoções (motivações, interesses, conflitos) que são, particularmente, individuais; e a distância, nada mais é que a jornada pelo desenvolvimento que está de acordo com a busca pelo conhecimento e pela aprendizagem.
Nesse artigo, Marina coloca que esta “distância” que precisa de “combustível máximo” será o diferencial, o que nos faz ser ímpar nas relações que estabelecemos. Para isso, é necessário ter percepção de si mesmo, dos outros, do meio em que se vive, dos objetos com os quais se relaciona e que, por ter cada indivíduo uma capacidade de “combustível” diferencial, a sua autonomia psicomotora será alcançada respeitando o tempo de cada um. O olhar sensível a essa corporeidade, faz com que o professor de classe ou o psicomotricista perceba o momento em que o “veículo com combustível”, sob sua responsabilidade, estará preparado para permanecer nessa jornada. Isso depende, também, da família, dos outros terapeutas, dos amigos e da sociedade. A “autonomia psicomotora” está na “capacidade suficiente” para que a distância seja alcançada com qualidade.

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